Se as políticas de mandatos e misturas de biocombustíveis convencionais e avançados de diferentes países forem cumpridas pelos próximos anos vai faltar matéria-prima para atender toda a demanda até o fim da década.
Segundo um estudo desenvolvido pela consultoria Bain, haverá um déficit de 20% de matérias-primas de óleos e gorduras para atender a necessidade de biodiesel, de diesel renovável (HVO, quimicamente igual ao diesel fóssil) e de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). A estimativa leva em consideração o uso de óleos vegetais, gordura animal e óleo de cozinha usado para atender a futura demanda por biocombustíveis.
Para produzir esses biocombustíveis, portanto, será necessário ou ampliar a produção de óleos ou apostar em novas rotas de produção. Sem isso, o déficit só tende a aumentar a partir de 2030.
A projeção leva em consideração a taxa histórica de evolução da produtividade dessas matérias-primas, sem ampliação de área cultivada em nenhum lugar no mundo, e o maior aproveitamento possível de resíduos dentro do que é logisticamente viável, explica Felipe Cammarata, sócio da Bain.
“O que apontamos é: precisamos fazer algo a mais”, sustenta. Isso pode envolver tanto melhorias em genética agrícola, cultivo de mais safras em uma mesma área e ganhos de produtividade.
Uso de resíduos
Se o aumento da oferta de matéria-prima tiver que passar pela expansão de plantios, há áreas em nível global que podem ser alvo de ampliação “sem expandir a área sobre floresta”, defende. No campo dos resíduos, é possível aumentar a oferta de matéria-prima com maior uso de sebo bovino, de resíduos agrícolas, e de saneamento.
Para Cammarata, o mundo deverá se dividir entre países que terão mais demanda por biocombustíveis do que suas produções de matéria-prima são capazes de atender e os que terão matérias-primas além do necessário para satisfazer suas políticas internas.
Nesse balanço, ele acredita que o setor poderá seguir os passos da indústria mundial de óleo e gás, na qual muitos países buscaram construir uma infraestrutura de refino, ainda que não tenham acesso a bacias de petróleo.“Nesse setor, o comércio de matéria-prima é muito superior ao do produto terminado. Imaginamos algo similar [em biocombustíveis]”, comenta.
No setor de biocombustíveis, porém, Cammarata ressalta que deve contar também a pegada de carbono, o que pode estimular mais investimentos em processamentos nos locais onde já há matéria-prima para evitar emissões no transporte dos produtos.
Camila Souza Ramos – Globo Rural